quinta-feira, setembro 14, 2006

Geração espôntanea




Era uma vez uma letra solta do alfabeto, perdida no écran do computador de uma criança que nada percebia de computadores.
A crinça olhava a letra e brincava com ela: para cima, para baixo, esquerda, direita... numa dança que parecia não ter fim.
As gargalhadas do miúdo eram a música que acompanhava o bailado excêntrico da letra solta, que tremia sempre que aquele maldito cursor se aproximava.
Não havia forma desse "pas de deux"terminar, e a letra solta já desesperava e tudo o que queria era estar longe dali, com as restantes letras da família.
Resoveu agir e reagir à provocação daquele "puto", que não parava de a ameaçar com o maldito cursor.
Estendendo o seu braço pequenino e frágil, agarrou a criança e puxou-a... numa troca rápida, a letra soltou-se do écran e aprisionou a criança nesse mesmo écran...
Já em casa, saltitando de tecla em tecla no teclado familiar, a letra pequenina ouviu a letra grande ralhar-lhe:
- Não deves fazer aos outros o que não queres que te façam!
- Eu ralada... Quero lá saber! Problema dele! E agora não me chateis mais que eu vou ali dar uma passa para... "destressar"...
Entretanto, o pai da criança começava a estranhar os ruídos vindos do computador e foi espreitar.
Com um sorriso de orelha a orelha, gritou pela mulher:
- Querida, ó querida, vem cá, vem ver isto! O nosso filho é o maior! Já viste o que ele fez? Conseguiu criar um cursor de si próprio! Genial! Ó filho, onde estás? Vem cá ao pai para te dar um beijinho... Tomás, onde estás? Brincalhão... é tal e qual o pai... somos os maiores! Tomás, ó Tomás...